Prefácio

O século XXI converteu-se em um período de crises imprevistas. Há pessoas dedicadas à violência, à morte e à destruição. Felizmente, há também aqueles que desafiam essas ideias, defendendo os benefícios do diálogo e do entendimento. Os eventos de 11 de Setembro de 2001 ilustram a importância disso. Os acontecimentos daquele dia e a atual Guerra ao Terror mudaram o panorama tanto das comunidades locais quanto das internacionais. Desse modo, aqueles dezenove sequestradores criaram um dos maiores paradoxos do século XXI: o Islam, que se vê como uma religião de paz, agora está associado a assassinato e caos.

Infelizmente, há falta de informação sobre o Islam entre muçulmanos e não-muçulmanos. A necessidade de entender-se o Islam agora ultrapassa os departamentos de humanidades das nossas universidades e adentra a casa das pessoas. A crescente população muçulmana, estimada em 1,4 bilhões de pessoas, vive em cinquenta e sete Estados muçulmanos, dos quais, pelo menos, um tem capacidade nuclear. Muitos desses Estados muçulmanos desempenham um papel central, como aliados ou como adversários dos EUA, na Guerra contra o Terror. A comunidade muçulmana não está isolada em uma só parte do globo; aproximadamente sete milhões de muçulmanos vivem nos EUA e muitos outros milhões na Europa. Os principais terroristas da lista de criminosos mais procurados dos EUA são muçulmanos – Osama Bin Laden, líderes da Al Qaeda e do Talibã, como Mullah Omar –, porém, também são muçulmanos, os principais aliados dos EUA na Guerra ao Terror: o Presidente do Paquistão, Pervez Musharraf; o Presidente Karzai, do Afeganistão; o Rei Abdullah, da Jordânia. Portanto, se tanto os implacáveis oponentes quanto os aliados são muçulmanos, é imprescindível começarmos a entender o Islam.

O único modo de assegurar que nós, a comunidade internacional, superemos os falsos e reais confrontos entre as crenças é por meio do diálogo e do entendimento. A obra de Jill Carroll, Diálogo entre Civilizações, defende a posição do diálogo, a qual aprovo firmemente. A Prof.ª Dra. Carroll presta um grande serviço a todos nós ao esclarecer a filosofia muçulmana única de M. Fethullah Gülen. Gülen, um grande líder sufista turco e pioneiro no diálogo inter-religioso há mais de trinta anos, acredita que “o diálogo não é um esforço supérfluo, mas um imperativo... o diálogo está entre as obrigações dos muçulmanos para tornar o mundo um local mais pacífico e seguro”. Em uma época em que a humanidade necessita de líderes espirituais, encontramos tal líder em Fethullah Gülen. Gülen passou sua vida adulta expressando os apelos e lamentos, bem como as crenças e aspirações, dos muçulmanos e da humanidade em geral. Ele inspirou um imenso movimento cívico que, desde 1960, tem evoluído e crescido para abarcar muitas facetas da vida social. Gülen, como intelectual muçulmano sufista, encoraja milhões, tanto muçulmanos como não muçulmanos, a servir à humanidade.

Nesta obra, a Prof.ª Dra. Jill Carroll prossegue com a tradição do diálogo, apresentando um diálogo textual entre os pensamentos e os ensinamentos de Gülen e cinco filósofos mundialmente conhecidos no discurso humanístico geral: Immanuel Kant, Confúcio, John Stuart Mill, Jean Paul Sartre e Platão. A autora não somente é capaz de criar um discurso que reflete os ensinamentos de Gülen como também nos proporciona um exemplo do tipo de diálogo necessário no Século XXI, em que pensamentos e ideias totalmente diferentes das nossas são apresentados de modo racional e nos leva à reflexão.

Não há ninguém mais qualificado para conduzir esse diálogo textual que a professora Carroll. Como diretora adjunta do Centro Boniuk para o Estudo e Promoção da Tolerância Religiosa da Universidade Rice, escritora habitual e conferencista sobre as ideias de Gülen, ela adquiriu um entendimento profundo dos ensinamentos dele. Além de sua formação acadêmica como professora de Humanidades e Religiões Comparadas, ela adquiriu grande experiência em filosofia continental da religião, o que lhe permitiu se sobressair nessa incumbência. A Prof.ª Dra. Carroll tem feito um grande esforço para apresentar os ideais islâmicos e os princípios do Movimento Gülen à ampla comunidade acadêmica. Eu presenciei sua devoção aos ideais de tolerância e diálogo em seu discurso na Conferência Internacional sobre o Islam no Mundo Contemporâneo: O Movimento Fethullah Gülen em Pensamento e Prática, realizada em 2006 na Universidade de Oklahoma, da qual tive a honra de participar como orador.

Enquanto eu conduzia um projeto de pesquisa para a Instituição Brookings chamado “Islam na era da globalização”, durante a primavera de 2006, viajei a nove países muçulmanos e pude ver o quão influente é Fethullah Gülen. Na tentativa de compreender a “mente” dos muçulmanos de todo o mundo islâmico, preparei com a minha equipe de pesquisa um questionário que formulava perguntas diretas a cada participante. As perguntas formuladas tinham como propósito estimar as reações com relação ao Ocidente e à globalização. Percebemos que muitas pessoas seguem aqueles que procuram colocar barreiras ao redor do Islam, excluindo todos os outros, especialmente a influência ocidental. Essa ideia está ganhando popularidade rapidamente em todo o mundo muçulmano. Na Turquia, no entanto, vimos que o modelo contemporâneo mais popular era o de Fethullah Gülen, indicando a importância do seu movimento intelectual e o potencial deste como força de compensação perante os ideais de exclusão que ganham cada vez mais força no mundo muçulmano.

A importância e a eficácia do Movimento Gülen cresceram de forma exponencial durante os últimos trinta anos. Atualmente, isso inclui o estabelecimento de centenas de escolas modernas e várias universidades dentro e fora da Turquia, uma rede de meios de comunicação (quatro cadeias nacionais de televisão na Turquia, uma revista semanal e um jornal proeminente), além de organizações empresariais. O movimento tem crescido não como um movimento político, mas como um movimento social e espiritual. Como reformador social inigualável, Gülen apresenta um novo estilo de educação que começa a amalgamar conhecimento científico e valores espirituais. Desse modo, ele é capaz de encontrar um meio-termo islâmico que se compromete de modo crítico com a modernidade. Ele acredita que a verdadeira meta das nações é a renovação ou “civilização” dos indivíduos e da sociedade por meio da ação moral.

Gülen inspirou-se amplamente nos ensinamentos de Mawlana Jalal al-Din Rumi e nas mensagens deste de servir a Deus, amar e servir uns aos outros. Rumi, um dos autores mais vendidos não só no mundo muçulmano, mas também nos Estados Unidos, abriu o caminho intelectual e espiritual do Movimento Gülen. Ambos dedicaram suas vidas à compreensão do Sufismo. Gülen descreve Rumi com grande reverência “não como um discípulo, um dervixe, um representante ou um professor como é conhecido entre os sufistas tradicionais. Ele desenvolveu um novo método, adornado com um revivalismo e um raciocínio pessoal e individual tomando o Alcorão, a Sunna e a devoção islâmica como pontos de referência. Com uma nova voz e novo fôlego, ele reuniu, com êxito, sua geração e as gerações posteriores em um a mesa divina”.

Gülen nos ajuda a responder questões sobre a vida, valores e os componentes de uma sociedade humana justa ao reconciliar as aparentes diferenças entre as ciências positivas e a teologia. Em suas obras e apresentações orais, Gülen provê uma luz que guia aqueles em busca de soluções para os dilemas de hoje. Ele nos explica que os dias em que as coisas se resolviam com força bruta já passaram. É pela persuasão e pelo uso de argumentos convincentes que conseguiremos que os outros aceitem nosso modo de ser. Apenas por meio do entendimento, da colaboração e do respeito, as comunidades podem conviver em paz. Em um mundo cada vez menor, essa lição deve ser aprendida. Tornou-se compulsório, haver respeito pelos costumes religiosos e culturais. Portanto, é essencial que criemos, de todas as formas, um processo de entendimento mútuo e diálogo inter-religioso. Neste mundo pós 11 de Setembro, repleto de “choques” reais e imaginários, os milhões de participantes do Movimento Gülen continuam a nos oferecer orientação espiritual e prática em direção à paz e à tolerância mútua. Em um mundo no qual proeminentes líderes muçulmanos falam sobre conflito e confrontação, Gülen proporciona uma nova voz que convida pessoas de todas as crenças para a “mesa divina”. Por meio de sua orientação, podemos criar um mundo onde o diálogo é o nosso primeiro curso de ação e o confronto, o último. Com esse espírito, a Prof.ª Dra. Carroll contribui com uma obra que realça, não somente a nossa compreensão dos princípios e dos ensinamentos de Gülen, mas sobretudo chama a atenção para um importante movimento filosófico do nosso tempo.

Gostaria de agradecer a Muhammed Çetin, Presidente do Instituto para o Diálogo Inter-religioso, que iniciou esse importante trabalho de promoção do diálogo e compreensão entre o Ocidente e o mundo muçulmano e, também, expressar a minha gratidão a David Montez, por sua assistência na preparação deste prefácio e de seu compromisso com o diálogo. Como alguém ativamente envolvido no diálogo inter-religioso, preocupo-me muito com a necessidade de compreensão e compaixão nesta época tão perigosa. Como professor universitário, encontro-me em uma posição privilegiada para testemunhar o poder do diálogo dentro das aulas e como isso pode modificar perspectivas. Como pai e avô, pessoalmente, sinto a necessidade vital do diálogo sobre os meus ombros. A necessidade de estabelecer pontes é crucial para preservar a segurança dos nossos filhos. O diálogo e a compreensão já não são um passatempo intelectual, são um imperativo para nossa sobrevivência no século XXI.

Professor Akbar Ahmed
Cátedra Ibn Khaldun de Estudos Islâmicos
Universidade Americana, Washington D.C.

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