Turquia: Uma Ponte entre o Islã e o Ocidente

Com uma grande herança histórica, vastas extensões de terra e um povo fascinante, a Turquia é, literalmente, a encruzilhada entre o Oriente e Ocidente. Situado ao longo do Bósforo, este país é a ponte entre Ásia e Europa. A Turquia moderna não somente está localizada em dois continentes, mas tem sido, historicamente, o centro físico e intelectual do conflito entre duas civilizações – o Islã e o Ocidente. O país tem estado inquieto tentando equilibrar o secularismo ocidental e o tradicionalismo islâmico, desde a Revolução Kemalista.

Quase um século atrás, Mustafa Kemal iniciou uma ampla Revolução Cultural no decadente Império Otomano, abolindo o califado e outras instituições islâmicas para criar a moderna e laica República da Turquia. Desde então, isto tem provocado o surgimento de movimentos contrários à trajetória Kemalista na construção de uma identidade nacional, levando à institucionalização de uma síntese Turco-Islâmica na estrutura do Estado.

A mudança corrente no conceito islâmico de nacionalismo teve seu início no Império Otomano. O objetivo era reestabelecer as fontes islâmicas de nacionalismo na Turquia moderna. Após décadas, através de ações consistentes e da análise da visão de mundo do Islã a partir de uma perspectiva civilizacional, estudiosos/intelectuais muçulmanos turcos estabeleceram as bases para uma verdadeira revitalização do pensamento islâmico moderado, na Turquia. Este conceito é, verdadeiramente, civilizacional: estudiosos veem o Islã não somente como religião e cultura, mas como uma civilização (estrutura política, organização social, meio de conhecimento – ciência, meio ação – tecnologia, meio de existência – arte e cultura) intacta e esperando para ser redescoberta. Além disso, eles consideram a Turquia a arena onde a batalha entre as civilizações Islâmica e Ocidental se iniciou e onde ela será apaziguada através do diálogo.

Nas décadas após a Revolução Kemalista, dois conceitos de modernidade/secularismo se desenvolveram, na Turquia. O primeiro é um conceito imposto de cima para baixo conhecido como Kemalismo, a ideologia de Mustafa Kemal, fundador da moderna República da Turquia. Esta ideologia tem nacionalismo e secularismo extremos como pilares. O Secularismo Kemalista foi equiparado à modernização e ocidentalização no laicismo do Secularismo Frances. O que significa que não havia espaço para o Islã na esfera pública e o domínio público precisava ser expurgado do Islã. A ciência deveria se tornar o único guia, enquanto o Islã era algo negativo que deveria ser descartado. Assim, o Kemalismo se tornou a ideologia legitimadora da elite governante. Porém, enquanto definia cada vez mais a elite dominante, este conceito gerava grandes reações das massas e periferias turcas. Esta reação se articulava contra o secularismo.

O segundo conceito é um modernismo/secularismo a partir das bases que não é estranho nem negativo. A maioria dos turcos o receberam bem, tendo sido renegociado e redefinido. Além disso, este conceito foi internalizado pelas massas em vez de imposto pelo Estado ou pelo Ocidente.

Este modernismo/secularismo das bases dava espaço ao Islã na esfera pública e estava alinhado com noções islâmicas. Nele o Islã é uma fonte de moralidade e ética. Este conceito não vê o Islã e a política como elementos conflitantes ou mutuamente exclusivos. Contudo, não apoia que o Islã se torne uma ferramenta para uma política corrupta.

O Movimento Islâmico Nursi, ao longo dos anos, tem enfatizado que o Islã deve ficar acima da política. Nursi temia que a política pudesse corromper o Islã. Bediuzzaman Said Nursi (1873-1960), foi o motor de partida e um nos intelectuais mais influentes sobre pensamento islâmico no início da história da República. Ele tentou capacitar muçulmanos turcos ao modernizar a terminologia e linguagem islâmica. Ele buscava provê-los com um novo vocabulário pra que pudessem participar de discussões e debates modernos sobre assuntos como constitucionalismo, ciência, liberdade e democracia. Desta forma, um de seus objetivos principais era capacitar muçulmanos com um novo caminho cognitivo. Segundo, ele tentou promover uma identidade muçulmana nova e flexível. Terceiro, ele enfatizou a ideia de que o sagrado e a ciência não são conflitantes ou mutuamente exclusivos, mas deveriam ser integrados. De certa forma, ele tentou vernacularizar a ciência e discursos modernos em um idioma islâmico para facilitar a disseminação do conhecimento cientifico em países muçulmanos. Estes foram os objetivos dos trabalhos de Said Nursi.

Em décadas recentes, Fethullah Gülen (nascido em 1938) surge com uma das manifestações do legado de Said Nursi, na Turquia. Gülen, em muitos aspectos, representa sua abordagem e continua a ser um agente desta nova transformação social. Ele teve um papel chave em transformar a mente das pessoas e em leva-las a um novo entendimento de modernidade das bases. O Movimento Gülen surgiu, em grande parte, a partir do Movimento Nursi e apesar de haverem algumas características novas introduzidas por Gülen, eu chamo este novo movimento um Movimento Nursi-Gülen [2]. Em termos de nacionalismo, Gülen é um pouco mais nacionalista (em um contexto Pan-Turco) em seu modo de pensar. Além disso, ele é mais voltado ao Estado e se preocupa com economia de mercado e políticas econômicas neoliberais. Estas são as maiores características do Movimento Gülen.

O Movimento Gülen passa das ideias para a prática. A prática é algo importante e, assim, ação é significativa. Em sua visão, o Islã não se refere somente a orar cinco vezes ao dia e ler livros islâmicos, mas inclui ação e a criação de instituições. Neste sentido, o Movimento Gülen é mais temporal, pois deseja criar o céu aqui e agora – sistemas educacionais, hospitais, instituições, entre outros. Enquanto Said Nursi focava em um entendimento cognitivo, Gülen se volta à ação. Gülen desenvolveu uma rede enorme de instituições não somente na Turquia, mas também em vários outros países muçulmanos e não-muçulmanos.

Na Turquia, o pendulo balança em direção ao conceito de modernidade a partir das bases e uma nova visão de secularismo evoluiu.

Este texto é uma observação da islamização da Turquia nos últimos 50 anos. O elo mais importante, neste contexto, é o pensamento e movimento islâmico Nursi-Gülen.

A Turquia tem se tornado cada vez mais interessante para literatos em estudos islâmicos. Ela é a única nação islâmica na OTAN e começou a negociar sua adesão à União Europeia, onde poderá, certamente, ser uma ponte entre as civilizações islâmicas e ocidentais. Sem dúvida, o Islã continua um dos elementos essenciais da cultura turca – 99% da população turca é muçulmana. A influência do discurso de Nursi-Gülen é muito importante na esfera pública turca.

No entanto, o principal objeto deste texto é Fethullah Gülen. Ele é uma personalidade islâmica influente na Turquia atual e, talvez, no mundo. Sua influência não vem somente de sua personalidade carismática e de sua sabedoria intelectual, mas também, de um amplo número de instituições educacionais e sociais que foram estabelecidas por vários de seus admiradores que levaram a sério seus conselhos e recomendações. Recentemente, o periódico The Muslim World [3], dedicou uma edição especial a Fethullah Gülen e seu movimento cívico que contribuiria muito para o entendimento da modernidade, no contexto Turco-Islâmico.

Apesar de Gülen ser um intelectual/estudioso muçulmano, seus feitos e interesses vão muito além do campo da teologia. Ele é versado em Ciências Islâmicas ao mesmo tempo em que tem profundo conhecimento sobre o pensamento ocidental. Gülen leu Hafiz assim como Goethe. Ele conhece tanto Peyami Safa, um famoso novelista turco, quanto Dostoievsky. Tendo estudado Ciências Islâmicas na juventude, ele tem um grande talento para memorização assim como para síntese. Mesmo na idade de sessenta e seis anos, ele é capaz de recitar todo o Alcorão de cor. Ele é, também, versado em hadices, os ditos do Profeta (A paz esteja com ele). Não seria exagero dizer que Gülen tem mais de dez mil hadices memorizados em Árabe, língua original em que foram escritos.

Fethullah Gülen conseguiu estabelecer um vasto movimento cívico-social através de seus discursos e textos inspiradores. A partir do fim da década de 1960, seu movimento, gradualmente, evoluiu e se desenvolveu em várias áreas da vida social. Evitando tomar parte na política, o Movimento desenvolveu um projeto de esclarecimento intelectual para combater as doenças sociais. Incluindo o estabelecimento de centenas de escolas modernas e várias universidades dentro e fora da Turquia, uma rede de mídia (por exemplo, um canal nacional de TV, uma revista semanal, Samna, um jornal diário de ponta), e organizações empresariais. Influenciado por tradições sufistas, os preceitos do Movimento Gülen sobre a cultura turca de tolerância têm sido criticados tanto por grupos extremistas de secularistas quanto islamistas. A Fundação de Jornalistas e Escritores foi a primeira e principal ONG; seu presidente honorário é Fethullah Gülen. Esta ONG efetivamente lida com diálogo inter-religioso e busca por pontos em comum.

Um respeitado periódico publicado nos Estados Unidos, “The Muslim World”, em sua 3ª edição de Julho, examinou os pontos de vista de Fethullah Gülen e o movimento cívico-social ao seu redor.

Esta edição especial tinha o título “Islã na Turquia Moderna: Contribuições de Fethullah Gülen” e incluía artigos sobre Gülen escritos por especialistas como Sidney Griffith, Zeki Saritoprak, Mucahit Bilici, Lester R. Kurtz, Elisabeth Özdalga, e Thomas Michel.

Aqui, leitores encontrarão resumos dos artigos daquele prestigiado periódico americano. Há, também, uma entrevista com Gülen conduzida pelo periódico que não serei capaz de reproduzir neste texto. Os artigos daquela edição especial tratam de vários aspectos da personalidade e empreendimentos de Gülen a partir de perspectivas diferentes.

No primeiro trabalho apresentado, Osman Bakar [1], foca a abordagem de Gülen sobre a relação entre ciência e Islã, examinando o entendimento de Gülen sobre a natureza de verdades religiosas e científicas de modo comparativo. Ele argumenta que, no discurso muçulmano contemporâneo, não é comum encontrar estudiosos sérios, entre os teólogos, que reflitam sobre questões como Islã e ciência. Ele argumenta que Gülen pertence a este pequeno grupo de teólogos comprometidos. Osman Bakar descreve Gülen como um estudioso islâmico, com raízes nas Ciências Islâmicas tradicionais, mas que é, ao mesmo tempo, familiar à ciência moderna ocidental. Bakar afirma que as ideias de Gülen sobre este assunto foram marcadas por sua profunda fé no intelectualismo sufista, apesar de não ter iniciado nenhuma ordem sufista. Apontando os esforços de Gülen em reconciliar Islã e ciência, Bakar indica que os ensinamentos de Gülen buscam um sincero diálogo, não somente entre Islã e outras fés, mas, também, entre religiosos e cientistas de outas sociedades. Com relação a isto, as opiniões de Gülen são importantes para o mundo contemporâneo em muitos aspectos, afirma Bakar.

O artigo de Lester Kurtz [4] examina o paradoxo de Gülen em combinar um comprometimento pessoal com princípios religiosos islâmicos e um forte compromisso com pluralismo. Ele argumenta que Gülen conseguiu amalgamar teoria e prática. Se referindo a certos fundamentos teológicos nos quais Gülen baseia suas ideias de tolerância, Kurtz cita Gülen: “Uma pessoa não pode ser muçulmana se não acreditar nos profetas pré-islâmicos”. Lester Kurtz, que inicia seu texto com a suposição de que lealdade à fé e tolerância são noções distantes e contraditórias, conclui que Gülen as reconcilia. Indicando que Gülen encoraja outros a praticarem tolerância, não apesar de, mas como uma consequência de sua lealdade ao Islã, Kurtz aponta as escolas como uma das áreas mais importantes onde essa reconciliação acontece. Indicando que estas escolas constituem uma forma de serviço humanitário, designado para promover a educação, em um sentido geral, e para evitar propaganda islâmica. Kurtz diz que se a humanidade conseguir sobreviver mais um século, em grande parte, isto se deverá às vozes vindas de comunidades religiosas como a de Gülen.

O artigo de Thomas Michel [5] explora a relação entre Sufismo e modernidade nos ensinamentos de Gülen. Ele também explica como Gülen foi bem-sucedido em seguir os ensinamentos sufistas sem ficar preso às regulamentações legais do Estado turco, que havia banido a instituição sufista Tariqa. Michel fala de três influências principais que moldaram a forma de pensar de Gülen: o Islã Ortodoxo Sunita, a tradição sufista Naqshbandi e o Movimento Nursi. Boa parte do artigo trata da abordagem de Gülen à modernidade e sua influência no pensamento turco contemporâneo. Thomas Michel, que estuda como “Sufismo” e “modernidade” são reconciliados no pensamento de Fethullah Gülen, indica a filosofia educacional que é refletida em centenas de escolas estabelecidas na Turquia e ao redor do mundo como a mais confiável evidência desta reconciliação.

Michel diz que, levando em consideração a falta de integração entre conhecimento científico e conhecimento de valores espirituais, Gülen e seus parceiros introduziram um novo estilo de educação que reconcilia os dois. De acordo com Michel, Gülen não propõe um tradicionalismo rígido, que rejeite completamente valores modernos, nem um retorno nostálgico ao modelo de educação madraçal da era Otomana. Em vez disso, ele encontra um meio termo islâmico que mantém um compromisso crítico com a modernidade. Em oposição a projetistas sociais modernistas, Gülen considera o verdadeiro objetivo das nações a renovação ou “civilização” do indivíduo e da sociedade através da ação e mentalidade moral. Michel caracteriza as escolas estabelecidas com esta filosofia em mente como um dos empreendimentos educacionais mais impressionantes e promissores da atualidade.

Elizabeth Özdalga [6] escreveu um artigo sobre o Movimento Gülen para chamar a atenção para as “outras faces do Islã”. Ela examina o fenômeno Gülen, que ela chama de “o movimento de revitalização mais influente, na Turquia moderna” a partir da estrutura teórica discutida no livro do sociólogo Norbert Elias intitulado “Modernization Process” (Processo de Modernização).

Özdalga analisa a comunidade Gülen de uma perspectiva sociológica. Ela sugere que quando instituições públicas falham em integrar cidadãos, a demanda por outras organizações e comunidades para preencher este vácuo aumenta. A comunidade Gülen tem um papel significativo nesta conjuntura. Ela menciona as experiências de vários membros femininos do Movimento Gülen e, enfaticamente, sugere que a comunidade Gülen não é uma Tariqa (ordem sufista), mas uma comunidade civil. Se referindo à estrutura analítica de Elias, Özdalga examina a relação entre o estabelecimento turco e o Movimento Gülen.

Özdalga vê o Movimento Gülen como uma das redes civis temporárias que assume o papel de “mediador” e preenche os espaços onde instituições públicas têm dificuldade em integrar cidadãos ao sistema durante o processo de se tornar um estado-nação moderno.

Chamando a congregação Gülen uma “rede social” diferente de outras congregações, Özdalga diz, “O Movimento Gülen, que dá tanta importância à educação, faz uma contribuição notável na formação de valores e identidades, que levam a um aprofundamento das raízes no processo de construção de um estad,o-nação.”

De acordo com Özdalga não é a religião, mas o medo dos “acomodados”, com relação à mudança no equilíbrio do poder em favor “daqueles vindos de fora,” que forma a base de reação à Gülen, como mencionado por Elias.

Sidney Griffith e Zeki Saritoprak [7] exploram a ideia de Gülen sobre diálogo inter-religioso. Este artigo tenta encontrar as raízes da abordagem de Gülen ao se referirem a outras figuras islâmicas como al-Hasan al-Basri (728 d.C) e Harith al-Muhasibi (857 d.C), al-Ghazzali (1111 d.C), e Jalall a-Din ar-Rumi (1276 d.C). Além destes, Gülen lê, avidamente, os trabalhos recentes de dois escritores indianos, Ahmad Faruqi Sirhindi (1564-1624) e Shah Wali Allah al-Dihlawi (1703-1762) assim como algum clássicos ocidentais como Victor Hugo, William Shakespeare e Honoré de Balzac. O artigo argumenta que “Bisme-allah,” o primeiro verso do primeiro capítulo corânico, constitui o ponto de partida para o entendimento de Gülen sobre o diálogo inter-religioso. Álém disso, o artigo trata do encontro de Gülen com o Papa João Paulo II e as reações de vários muçulmanos a este encontro.

O artigo examina as raízes teológicas sobre paz e não-violência do Islã e apresenta exemplos de representantes desta tradição na Turquia, como Suleyman Hilmi Tunahan, Mehmed Zahid Kotku, Bediuzzaman Said Nursi e Fethullah Gülen.

Estas pessoas fizeram contribuições importantes para a formação de uma atmosfera mais segura e pacífica no país graças à sua lealdade ao princípio de “ser contra a violência apesar das pressões impostas por secularistas extremos,” de acordo com Saritoprak.

Indicando as experiências pessoais de Gülen obtidas durante os processos de “anarquia e golpes militares” que tiveram um papel importante em sua atitude antiviolência, Seritoprak diz, “Para um mundo pacífico, no futuro, Gülen encoraja seus compatriotas a estabelecerem escolas na Turquia e no exterior.”

Gülen, também, defende a “liberdade religiosa” para não-muçulmanos, diz Saritoprak, concluindo que a experiência turca de uma atitude antiviolência no contexto dos ensinamentos islâmicos é uma solução válida em um período em que o Islã é associado a violência e barbarismo.

Mucahit Bilici aborda o Movimento Gülen e suas políticas de representação de forma mais crítica. Seu artigo examina as atividade de uma instituição turca chamada Fundação de Jornalistas e Escritores, da qual Gülen é presidente honorário, assim como outros campos de interesse do Movimento Gülen. Bilici acredita que esta organização trabalha para evitar o cumprimento da profecia de Huntington de um “conflito de civilizações”. Além disso, ele afirma que Gülen deve boa parte de seu histórico intelectual aos ensinamentos de Bediuzzaman Said Nursi, apesar de haverem diferenças entre eles. Bilici apresenta Gülen como um otomano moderno e expõe diversos termos que são populares dentro do Movimento Gülen, por exemplo, hizmet (serviço), e himmet (apoio).

Finalmente, o texto de Ihsan Yilmaz [8] examina a transformação do Islã na história da Turquia moderna, especialmente após o estabelecimento do Estado turco moderno. Neste contexto, ele diferencia entre Islã civil, representado por Gülen, e Islã estatal, para o qual Yilmaz cunha o termo “Islã Lausaniano”. Yilmaz também foca na influência do discurso de Gülen na esfera pública e compara o Movimento a outros partidos políticos islâmicos estabelecidos na Turquia. Yilmaz, ao mesmo tempo que examina o progresso do secularismo na Turquia, explica, em seu artigo, como um Islã não-oficial tem sido praticado apesar de o Estado, assumindo uma postura “secular mujahidin”, querer estabelecer o entendimento de Islã Lausaniano. Ele exemplifica o movimento da Visão Nacional sobre o Islã político e o movimento de Fethullah Gülen sobre o Islã anatólio. Afirmando que o Movimento Gülen, ao qual ele define como o maior movimento civil na Turquia, tem influência transformadora na sociedade, no Islã nacionalista e, também, no Islã político, Yilmaz considera que o discurso de Gülen se enquadra na categoria de “Islã moderado”. Yilmaz mostra o uso flexível da linguagem de Gülen em alguns assuntos relacionados ao fato de o estado autoritário não mostrar tolerância a nenhum rival na arena social. Ele exemplifica os esforços de círculos secularistas e nacionalistas que não conseguiram aceitar o encontro de Gülen com o Papa João Paulo II, num contexto de diálogo entre religiões, para fazer com que o Departamento de Assuntos Religiosos assumisse aquela função.

A publicação desta edição especial de “The Muslim World”, creio eu, provê um entendimento interessante de Fethullah Gülen e suas contribuições, que têm recebido cada vez mais atenção de especialistas acadêmicos no mundo muçulmano e ocidental. Com uma personalidade carismática, seus cada vez mais numerosos admiradores e sua tremenda franqueza, Gülen e seu movimento cívico-social podem contribuir para o desenvolvimento de relações positivas entre o Islã e o Ocidente. Um exame profundo do pensamento de Gülen mostra que ele é um dos principais estudiosos muçulmanos da atualidade, que tem promovido diálogo e tolerância entre comunidades muçulmanas, as quais diferem entre si em muitos aspectos importantes, assim como entre muçulmanos e aderentes de outras tradições religiosas.

Referências

1. The Muslim World (O Mundo Muçulmano), Julho 2005 - Vol. 95 Edição 3 Pg. 325-471
2. Journal of Muslim Minority Affairs (Jornal Interesses das Minorias Muçulmanas), 24:2 (2004), pg.213-232.
3. Bakar, Osman (2005) Gülen on Religion and Science: A Theological Perspective (Gülen, sobre Religião e Ciência: Uma Perspectiva Teológica). The Muslim World (O Mundo Muçulmano) 95 (3), 359-372.
4. Kurtz, Lester R. (2005) Gülen's Paradox: Combining Commitment and Tolerance (O Paradoxo de Gülen: Combinar Compromisso e Tolerância). The Muslim World (O Mundo Muçulmano) 95 (3), 373-384.
5. Thomas Michel, S. J. (2005) Sufism and Modernity in the Thought of Fethullah Gülen (Sufismo e Modernidade no Pensamento de Fethullah Gülen). The Muslim World (O Mundo Muçulmano) 95 (3), 341-358.
6. Özdalga, Elisabeth (2005) Redeemer or Outsider? The Gülen Community in the Civilizing Process (Redentor ou Renegado? A Comunidade Gülen no Processo de Civilização). The Muslim World (O Mundo Muçulmano) 95 (3), 429-446.
7. Saritoprak, Zeki & Griffith, Sidney (2005) Fethullah Gülen and the 'People of the Book': A Voice from Turkey for Interfaith Dialogue (Fethullah Gülen e os “Povos do Livro”: Uma Voz Turca pelo Diálogo Inter-Religioso). The Muslim World (O Mundo Muçulmano) 95 (3), 329-340.
8. Yilmaz, Ihsan (2005) State, Law, Civil Society and Islam in Contemporary Turkey (Estado, Legislação, Sociedade Civil e Islã na Turquia Contemporânea). The Muslim World (O Mundo Muçulmano) 95 (3), 385-411.

FEVEREIRO 13, 2014

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